segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pílulas do dia seguinte


Olim(piadas) Rio 2016: de fato, adentramos num novo período. Pelo menos, o astral do brasileiro mudou. Pré-sal (ou pressal, na nova ortografia?), habitação para todos, salário mínimo acima de R$ 500,00. Lula conseguiu, apesar dos pesares, impregnar o Brasil de otimismo. Essa vitória, em franca oposição a Chicago e aos EUA representados por Barack Obama, é a vitória do que Lula representa perante o mundo. Faço analogia dessa olimpíada a uma bela vitrine, uma exposição para qual os holofotes estarão direcionados. Resta saber se o conteúdo do mostruário, o que teremos a apresentar ao planeta, será digno de tanta expectativa.

Sobre a F1: Rubinho é isso aí. Sem ser original, quando mais se espera dele... é daí de não sai nada mesmo. Capaz de desempenhos extraordinários quando as circunstâncias são as mais desfavoráveis, costuma ratear quando o universo conspira a seu favor. Mas acho que dessa vez, ele sai com mais crédito da derrota. Lutou a luta justa, sem espernear e sem perder a compostura, somente o campeonato. Méritos de Jêinssan Bãtaoum. Se bem que, em 2007, o Hamilton perdeu um campeonato tendo vantagem de 17 pontos faltando duas corridas. Agora são 16. Milagres acontecem. Mas, pelo histórico, é melhor não alimentar expectativas.

“É da natureza do Humor ser impiedoso. O humor é o fiscal da falibilidade humana. Aceito que, às vezes é irresistível fazer uma piada sobre as coisas tristes, mas, sem querer parecer bonzinho, sou meio desajeitado para bater em cara amarrado. Chamo ‘bater em cara amarrado’ o que se pode chamar de Síndrome de Lynch. O cara passa por uma multidão que está linchando alguém, vê o pobre do linchado amarrado ao poste, vai lá e dá a sua porradinha.” (Ziraldo) Em tempos de pegadinhas, pânico, zorra total, o humor é sem graça e é angustiante a expectativa de algo além de belas bundas ornadas por acefalia e a claque a la Chaves.

Vamos falar de Honduras: o assunto já tá meio requentado, mas cabem alguns pitacos: Zelaya era direita. Micheletti é de direita. Ambos são do mesmo partido. Zelaya percebeu o movimento rumo à esquerda que toda América Latina viveu nos últimos anos. Resolveu pegar carona. Micheletti e a facção mais conservadora do partido deles resolveram empinar a carroça para obstruir a capitalização política populista de um ex-reacionário que cai nos braços do povo. A chancelaria brasileira se postou (com correção, em minha opinião) contra o Estado de exceção, contra o golpe, contra o poder dos quartéis. O Itamaraty é a melhor parte do governo Lula. Mesmo que esteja sendo usado por um caudilho, a expectativa era participar da restauração do Estado de direito.

A Anti-candidatura (eu prometo que até 2012 eu aprenderei como usar ou deixar de usar o hífen): Enquanto Ciro e Marina desfilam seus nomes como alternativas à polarização PTxPSDB, ainda que indisfarçadas crias do contraditório governo Lula, Heloísa Helena baixou a crista e cogita seriamente retirar seu nome da disputa. Com a brecha, Plínio de Arruda Sampaio surge como o nome do PSOL. Respeito e admiro a história e a postura do Dr. Plínio, mas se assumir como candidatura de protesto apenas ressalta a falta de um projeto político de esquerda. Em 1929, o modelo soviético surgiu como verdadeiro fantasma, causando paranóia no ocidente. Hoje, fenômeno mundial, desde a crise iniciada pela especulação imobiliária nos EUA, ficamos na expectativa de um projeto diametralmente oposto à ladainha de austeridade fiscal, controle dos gastos públicos, a histeria do mercado contra a intervenção do Estado na economia, etc, etc... e nada de grande repercussão surgiu.

Tem um jornalista chamado Flávio Gomes, figurassa. Ele idolatra alguns símbolos da antiga cortina de ferro. Disputa (como piloto mesmo) corridas a bordo de um Lada e é fã número 1 dos Trabant da Alemanha Oriental. No seu blog, ele está fazendo uma espécie de diário de viagem de Berlim a Praga, passando por Dresden, guiando um possante Trabant, de 26 hp, que recebeu o apelido de Gerd. Algumas passagens são impagáveis; outras, motivadas pelo consumo de cerveja de excelente qualidade, levam às lágrimas... de tanto rir! O mais interessante, contudo, é a simpatia ao modo de vida socialista. Selecionei um trecho: “Uma das críticas que fazem ao antigo regime diz respeito à doutrinação da molecada com ideias marxistas-leninistas desde cedo nas escolas, como se fosse um pecado ensinar aquilo em que se acredita. O que se faz numa escola brasileira hoje desde pequeno? Ensina-se a competição, o mata-primeiro-senão-ele-te-come-no-mercado-de-trabalho, a dar valor ao dinheiro, ao ter, ter mais sempre, e o que é isso que não uma doutrina escroto-capitalista que enfiam na cabeça das crianças mal elas saem das fraldas? Rotos falando de esfarrapados.” E conclui que a vida sem grandes expectativas pode nos afastar das grandes decepções.

Blog do Márcio.com.br: E aí, é menino ou menina?

3 comentários:

Márcio Scott Teixeira disse...

Hahaha
Esse texto é melhor que catarro com açúcar.
Só faltou falar sobre o glorioso esporte bretão, mas nesse finde não falar de futebol é compreensível.

patrick disse...

Grande Marco, concordo com o Márcio. Muito bom o texto. Estive afastado da leitura e participação do blog por motivos de força maior, mas não quero me furtar de dar uns pitacos por aí. Primeiro, também ainda não aprende a usar o hífem depois dessa reforma porca que fizeram. Segundo, também me incomodou a anti-candidatura do Plínio de Arruda, digo, me incomodou um pouco a partido assumir-se como incapaz de aglutinar num debate sério os descontentes com os rumos que o mundo toma. Já conversamos isso algumas vezes em mesa de boteco: Com essa puta crise em 2008 não teve ninguém na esquerda, nem partido nem nada no mundo inteiro para propor qualquer alternativa anticapitalista séria ao fato de os governos pegarem dinheiro público, sovarem nos banqueiros e em empresas privadas e nem ao menos exigirem que se diminuíssem os gordos bônus que essas figuras recebem todos os anos. É realmente preocupante o que acontece com a esquerda no mundo:passam o tempo se desculpando pelo passado e depois passam a fugir e renegar o mesmo, depois são incapazes de fugir do que gosto de chamar "teminhas glacê" do tipo diversidade cultural, ação afirmativa, casamento gay e outros quejandos. Evita-se ir ao cerne do problema porque pega mal afirmar com todas as letras que o atual modelo de produção é incopatível com uma série de coisas e que desenvolvimento sustentável dentro do capitalismo é conversa pra boi dormir. Depois até gostaria de escrever um pouco sobre isso.

Marco disse...

Pois é, companheiro...
Estou vivendo dias de luta na categoria. A crise, que foi quase que totalmente suportada pelo Governo Federal, deixou como sequela (o trema também caiu?) uma desculpa esfarrapada para os banqueiros diminuírem os reajustes salariais e a participação nos lucros dos empregados.
No caso do meu empregador, é ainda mais gritante essa distorção, pois a empresa apresentou balancete com lucro inferior ao dos exercícios anteriores (coisa pouca, de 1,15 bilhão - no 1° semestre).
Aí, quem arca com esse ônus são os funcionários que vêm seu quinhão na distribuição desses lucros reduzido pelo metade - sendo que a carga de trabalho, com todos os programas sociais que foram encampados, só aumentou.
No entanto, você precisa ver a histeria dos executivos quando as assembléias, até racionalizando quando poderia ser distribuido, encaminham proposta de participação linear de lucros, ou seja, o mesmo valor para todos os empregados. Só falta eles subirem nas tamancas e darem urros de revolta...